O câncer de mama é o tumor mais comum em mulheres, só ficando atrás do câncer de pele não melanoma. Há mais de três décadas, o movimento internacional Outubro Rosa estimula a conscientização e prevenção desta doença que, em 2024, deverá ser diagnosticada em mais de 73 mil brasileiras, segundo projeções do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Existe um fator de risco para o surgimento deste câncer que não é muito conhecido pelas mulheres: a alta densidade mamária. Trata-se de uma característica presente em cerca de metade da população feminina.
Para falar sobre o assunto, conversamos com a médica Ellyete Canella, coordenadora do Centro de Mama do Hospital Quinta D’Or e membro da Comissão de Qualidade em Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia. A dra. Ellyete, que também é mestre em Radiodiagnóstico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, dá aqui mais informações sobre esta característica feminina e como as mulheres com mamas densas podem prevenir o câncer.
O que são as mamas densas e por que elas aumentam o risco de câncer de mama?
As mamas são formadas por glândulas (responsáveis pela lactação), tecido fibroso e gordura. A mama densa possui grande quantidade de tecido glandular e pouca gordura. Esta característica aumenta o risco de câncer não só pela quantidade maior de glândula, mas pela dificuldade que o padrão denso causa na identificação das lesões.
Como a mulher pode saber se possui esta característica?
A densidade mamária está descrita nos laudos médicos da mamografia. Neste exame, o tecido fibroso aparece branco e o adiposo, escuro. Essa característica das mamas é definida em quatro padrões, que englobam quatro letras – de A a D. As duas últimas indicam alta e extrema densidade.
Como é possível para essas mulheres prevenir o câncer de mama?
Não é possível evitar o surgimento do câncer de mama. As medidas preventivas para a doença são iguais às de outros tipos de câncer: dieta balanceada, prática regular de atividade física, controle de peso, não fumar e consumir cafeína e bebidas alcoólicas com moderação.
Além da prevenção, o que fazer para mitigar os efeitos da doença?
O rastreamento pode levar à detecção precoce de lesões pequenas e não palpáveis, facilitando o tratamento do câncer. O Ministério da Saúde estabelece que o rastreamento, por meio da mamografia, deve ser realizado em mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos. Já as sociedades médicas recomendam a mamografia anual para pacientes entre 40 e 74 anos.
As mulheres com mamas densas devem associar a mamografia à ultrassonografia ou à ressonância magnética. O ideal é fazer os dois exames em centros especializados no atendimento integral em radiologia mamária. Se fizerem mamografia e ultrassonografia em clínicas diferentes, os médicos interpretadores não terão acesso às imagens de cada exame, o que limitará a capacidade diagnóstica. Fazer os dois exames juntos e com o mesmo médico melhora o desempenho dos métodos e evita falso-positivos.
Quando é preciso agregar a ressonância magnética à mamografia?
Esta estratégia é necessária em mulheres com risco intermediário e alto de desenvolver câncer de mama. No primeiro grupo, enquadram-se as pacientes com alta densidade das mamas. Já o segundo inclui pacientes com histórico familiar (parentes de primeiro grau com câncer de mama na pré-menopausa), portadores de mutações genéticas que predispõem a esse tipo de câncer e pacientes que fizeram radioterapia ou transplante.
Em mulheres com mamas densas ou com alto risco de câncer de mama, a tomossíntese pode ser disponibilizada na realização da mamografia, quando houver possibilidade. A tomossíntese é um software que gera imagens da mama em “fatias” de um milímetro, melhorando o desempenho do método na detecção precoce de lesões iniciais.