Revista Poder

Carência alimentar severa afetou mais da metade dos moradores do Complexo do Alemão de 2020 a 2022

Estudo aponta que 83% das famílias com crianças menores de 6 anos no Complexo do Alemão enfrentaram carência alimentar

Conjunto habitação no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro || Crédito: CC/Flickr/PAC

Uma pesquisa realizada com 8.700 moradores do Complexo do Alemão, na região norte do Rio de Janeiro, revelou que 53% deles enfrentaram carência alimentar severa em algum momento entre 2020 e 2022. O estudo foi conduzido pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e divulgado nesta segunda-feira, 16 de outubro.

Além disso, a pesquisa apontou que nos últimos três anos, 83% das famílias com crianças menores de 6 anos que vivem nessa comunidade enfrentaram carência alimentar em níveis que variaram de moderados a graves.

De acordo com informações da Rede Nacional de Estudos em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), a carência alimentar extrema ocorre quando alguém passa fome devido à falta de recursos financeiros para adquirir comida, resultando em apenas uma refeição diária ou até mesmo passar o dia inteiro sem comer. Por outro lado, a carência alimentar moderada envolve uma redução na quantidade de alimentos ou uma alteração nos padrões alimentares devido à escassez de alimentos disponíveis.

O estudo também mostrou que 11% das famílias relataram que seus filhos já passaram um dia inteiro sem comer devido à falta de recursos para comprar alimentos. Joice Lima, socióloga e membro da equipe de pesquisa do Ibase, que também já morou na região do Complexo do Alemão, destacou que a pandemia de COVID-19 desempenhou um papel crucial na intensificação da insegurança alimentar.

As políticas públicas destinadas a mitigar os efeitos do período de restrições não se mostraram adequadas para garantir os direitos essenciais relacionados à nutrição das famílias. Muitas pessoas não conseguiram se beneficiar das medidas governamentais, e o auxílio recebido se revelou insuficiente”, explicou Joice.

De acordo com o estudo, devido à falta de recursos para adquirir alimentos em quantidade suficiente, 40% dos adultos tiveram que reduzir o tamanho das refeições ou até mesmo pular uma delas para garantir que houvesse comida em casa.

Além disso, em 68,3% das residências, a estratégia adotada para evitar a falta de alimentos foi comprar itens de baixo custo para atender às necessidades alimentares de crianças com até seis anos de idade.

Joice explicou: “Se uma criança está passando fome, é porque a família esgotou todas as outras opções para atender a essa necessidade. A família não consegue encontrar recursos para comprar alimentos.”

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