Revista Poder

Gio Ponti: Talento múltiplo

A criatividade inesgotável do milanês Gio Ponti extravasou – e muito – os limites da arquitetura, sua área de formação, e foi parar em móveis, porcelanas, pinturas e até revistas

Gio Ponti e a cadeira Superleggera, criada em 1957

Por Ana Elisa Meyer

Nascido em Milão, Gio Ponti (1891 – 1979) foi um influente arquiteto e designer italiano do século 20. Formado em arquitetura pela Universidade Politécnica de Milão, atuou na área por quase três anos em diversos escritórios milaneses. Em 1923, passou a trabalhar com um renomado fabricante de porcelana, Richard Ginori, em sua oficina perto de Florença. Ali, durante quase uma década, colaborou com os artesãos desenvolvendo porcelanas ricas em detalhes, cores e formas, contribuindo para uma mudança da imagem dos produtos da companhia.

Como arquiteto, o repertório de Ponti oscilou entre os estilos clássico, de seus primeiros projetos na década de 1920, e modernista, em suas obras desenvolvidas no pós-guerra, como por exemplo a Torre Pirelli localizada no centro de sua nativa Milão. Mas os projetos que mais refletem sua criatividade, com contrastes de cor, de luz e de textura, são a Villa Planchart, em Caracas (Venezuela), de 1955, e a Villa Namazee, no Teerã (Irã), de 1964. É importante dizer que Pon- ti nunca encarou a arquitetura como uma atividade que se restringia à criação de edificações. Nos seus projetos buscava desenvolver simultaneamente o mobiliário, as luminárias e até mesmo os revesti- mentos cerâmicos. Criou uma vasta gama de produtos ao longo da carreira. Por meio deles, forneceu uma nova perspectiva para o mobiliário italiano tradicional ao conjugar de forma muito determinada dois aspectos fundamentais: estilo e funcionalidade. Exemplo disso é a cadeira Superleggera, de 1957, que é, literalmente, “superleve”.

Paralelamente a toda sua produção e contribuição para o design italiano, Ponti fundou, em 1928, a revista Domus, que virou referência mundial ao dar peso intelectual ao design italiano e o introduzir de forma definitiva na cultura contemporânea. Permaneceu como editor até o fim de sua vida.

Ponti teve uma carreira longa e bem-sucedida. É bem impressionante quando se traduz tudo em números: como designer trabalhou para 120 empresas; como arquiteto construiu em 13 países; e como editor de uma revista de enorme influência produziu 560 edições e escreveu pelo menos um artigo para cada uma; como acadêmico, lecionou em 24 países. Sempre mostrando muito fôlego e talento múltiplo, ainda encontrou tempo para se dedicar à pintura e à poesia. A alegria, as cores, a sensualidade e a boa vida italiana se refletem em todo o seu imenso acervo de projetos e, certamente, continua e continuará a influenciar artistas e designers do mundo. Hoje, seus móveis e objetos são disputados por colecionadores do mundo que procuram por elegância, bom gosto e funcionalidade.

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