Revista Poder

Suicídio aumenta no Brasil

Na contramão das estatísticas mundiais, que vêm caindo nos últimos vinte anos, o número de brasileiros que tiraram a própria vida aumentou 43% entre 2010 e 2019

Crédito: CC/Unsplash

Em 2022, mais de 16.200 brasileiros cometeram suicídio, o que dá uma média de 44 mortes por dia. No último dia da campanha Setembro Amarelo, mas sempre considerando que esse é um tema que demanda atenção ininterrupta, a revista PODER online conversou com o médico psiquiatra Rodrigo Leite Martins, professor colaborador do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, sobre o aumento dos casos de morte voluntária no Brasil.

Rodrigo Martins Leite, médico psiquiatra e professorcolaborador do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP | Crédito: Arquivo Pessoal

Por que a taxa de suicídios no Brasil vem subindo desde os anos 2000?
Estamos na contramão do que vem acontecendo no país, que vêm reduzindo suas taxas de mortalidade por suicídio nas últimas duas décadas. Apesar da instituição da Política Nacional de Prevenção de Automutilação e do Suicídio, em 2019, a meu ver, precisamos partir para ações concretas como, por exemplo, limitar o acesso a métodos que as pessoas costumam utilizar para atentar contra a própria vida, caso de alguns agrotóxicos e das armas de fogo. A intoxicação por chumbinho, por exemplo, que tem pesticidas agrícolas em sua composição, é uma causa importantíssima de suicídio. Apesar de seu uso ter sido proibido pela Anvisa, ele ainda é fabricado clandestinamente e utilizado irregularmente como raticida. Outra ação importante é limitar o acesso a medicamentos, não só os controlados, mas também os de uso corriqueiro. Um exemplo é o paracetamol que é vendido sem receita médica e que, em excesso, é tóxico para o fígado e pode levar à morte.

Quais são as regiões do país que apresentam maior taxa de suicídio?
Por ser mais populosa, a região Sudeste ocupa o topo da lista. Mas, proporcionalmente, a taxa de suicídio é superior nas regiões Norte, Centro Oeste e Sul. Por exemplo: no Mato Grosso do Sul, a taxa de mortalidade entre indígenas da etnia Guarani-Kaiowá é 22 vezes maior que a do restante da população brasileira, que atualmente é de 7,7 mortes a cada 100 mil habitantes.

O que pode ser feito para reduzir os números de suicídio no país?
A solução para esse problema é bastante complexa e exige ações em várias frentes – uma delas é estipular uma verba federal específica para a prevenção ao suicídio, que não esteja diluída no orçamento destinado à Saúde.

Além de limitar o acesso a meios que podem ser utilizados para atentar contra a vida, que mencionei anteriormente, precisamos compreender melhor o que chamo de geografia do suicídio no país. Só assim, teremos condições de determinar onde e de que forma investir para conter o aumento dos números. Precisamos entender a fundo o que acontece em grupos populacionais que apresentam taxas elevadas de suicídio – caso dos indígenas e dos descendentes de colonos alemães e italianos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Por exemplo: a cidade gaúcha de Venâncio Aires, que fica na maior região de fumicultura Brasil, apresenta a mais elevada taxa de suicídio do país: 12,4 mortes por 100 mil habitantes.

Também vejo a necessidade de preparar não só profissionais de saúde, mas também assistentes sociais, policiais e bombeiros para o manejo de situações de suicídio. Informação também é fundamental – e aqui não me refiro apenas à Educação, mas também ao que se propaga para a população, já que, de maneira geral, o sofrimento
mental não é visto com a urgência necessária.

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