Revista Poder

Agora ungido pelo mercado, Haddad cutuca “classe dominante”

Em entrevista à "Folha", ministro da Fazenda critica isenção dos mais ricos, vê andar de cima a se assenhorar do Estado e prevê resistência a taxação; Faria Lima não reage

Fernando Haddad || Crédito: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dominado os noticiários com agendas positivas — para ele. Parece já ir longe o tempo em que era lembrado como uma espécie de títere de Lula — “marmita”, em bolsonarês.

Até mesmo a última de suas três derrotas eleitorais, para o governo de São Paulo, em 2022, não foi computada como novo fracasso, dada a votação que teve na capital paulista, substancialmente maior que a do candidato vitorioso e atual governador, Tarcísio Gomes de Freitas.

Os últimos dez dias foram de júbilo. Depois de mostrar seus dons como violonista amador tocando um palhinha de  Blackbird em entrevista para uma emissora all-news, e viralizar, ele apareceu conquistando a confiança da Faria Lima e dos agentes econômicos em pesquisa da Quaest; lançou o programa “Desenrola”, de perdão de dívidas pequenas, promessa de campanha de Lula; e finalmente, nesta terça (18), soltou o verbo contra o velho patrimonialismo brasileiro sem abalar as estruturas do mercado com isso.

Em longa entrevista à Folha de S.Paulo ele disse coisas e usou expressões que semanas atrás talvez ensejassem réplicas e admoestações cabeludas. Criticou, por exemplo, a “classe dominante”: “Toda vez que há real alternância de poder no Brasil, ocorre essa tensão porque a classe dominante se sente expropriada de algo que pensa que é dela, que é o Estado brasileiro.”

E foi fundo na principal ferida brasileira, a desigualdade: “Como um país com tanta desigualdade isenta o 1% mais rico da população? Qual vai ser o dia em que nós vamos olhar para o problema e resolvê-lo? ”

Haddad disse ainda, em resposta a uma pergunta, que sim, “claro”, prevê “resistência” à aprovação da segunda parte da reforma tributária, que deverá atuar sobre patrimônio e renda. O que brande como trunfo nessa trincheira é a “divulgação de dados”, o que inclui isenções camaradas, vantagens históricas e, provavelmente, sonegação.

“Nós vamos divulgar os dados. Você acha que um brasileiro que é rico, tem residência no Brasil e dinheiro fora, não tem que pagar pelo rendimento de um fundo offshore pessoal? Por quê? Qual é o sentido?”, disse.

O silêncio de alguns agentes e influenciadores da Faria Lima foi acompanhado por figuras da direita histérica. Até às 14h, a bolsa operava de maneira neutra. Haddad passou ileso.

 

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