Revista Poder

Novas opções de produção de alimento ganham espaço

Para atender à crescente demanda por alimentos, indústria e academia apostam na proteína cultivada

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que em 2050 haverá 10 bilhões de pessoas no planeta, e uma das principais preocupações é como alimentar essa população. É nesse contexto que novas opções de produção de alimentos têm ganhado espaço. Além da proteína à base de plantas, que reproduz textura e sabor da proteína tradicional, há também a busca pela produção em escala da proteína cultivada, desenvolvida por meio de pesquisa celular.

A JBS, a maior empresa de alimento do mundo, tem olhado com atenção para essa solução como opção alimentar. Recentemente, a companhia realizou dois movimentos importantes. Com um aporte de US$ 41 milhões, a empresa assumiu, em 2021, o controle da espanhola BioTech Foods, uma das líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a produção de proteína cultivada. Posteriormente, em maio de 2022, anunciou a construção de um centro de pesquisas em alimentos, o JBS Biotech Innovation Center, em Florianópolis, com investimento previsto de US$ 60 milhões nos próximos quatro anos.

Nesse primeiro momento, a empresa concentrará esforços na construção de instalações especializadas para o desenvolvimento de tecnologia 100% nacional para a produção de proteína cultivada e da planta piloto no Brasil, bem como na aquisição dos insumos necessários para a realização das pesquisas. “O movimento que está sendo consolidado por meio do JBS Biotech Innovation Center é inédito no Brasil. Não há nada nesse porte em desenvolvimento no segmento, seja pela iniciativa privada ou por investimentos públicos”, diz o cientista Luismar Porto, presidente do JBS Biotech Innovation Center, ressaltando que “o investimento da JBS no mercado de proteína cultivada é, de longe, o mais relevante entre as empresas brasileiras”.

Além de Porto, que foi cientista visitante da Harvard University e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o projeto contará com cerca de 25 pesquisadores e será liderado também por Fernanda Vieira Berti, vice-presidente do Centro com passagem pelo Research Institute I3Bs e criadora de uma startup incubada no Vale do Silício (EUA) que desenvolveu produtos baseados em medicina regenerativa e células-tronco para o tratamento de animais. “Temos certeza de que se trata de um mercado promissor e que proporcionará seus primeiros resultados em médio prazo”, garante Fernanda. “Entendemos que, quando estiver em fase comercial, a proteína cultivada chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros.”

Apesar da proteína alternativa ainda ser um mercado em fase inicial, o setor está em franco crescimento. Segundo o GFI, as empresas de proteína e frutos do mar cultivados faturaram US$ 1,4 bilhão em 2021 frente aos US$ 400 milhões no ano anterior. Países como Cingapura, que já aprovou a comercialização de proteína cultivada para consumo, e Holanda, em vias de aprovar a legalização, são os pioneiros. Nos Estados Unidos, startups têm discutido com os órgãos reguladores locais a aprovação do produto no país. E o Brasil, com terreno fértil no ecossistema, possui as condições necessárias para se tornar líder em mais um setor.

 

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