Cortejado por um séquito de figuras excêntricas como os herdeiros da família imperial brasileira, Jair Bolsonaro vem fazendo das celebrações do aniversário da Independência brasileira eventos de forte conteúdo ideológico, para não dizer golpista. Em 2021, em Brasília e mais tarde em São Paulo, fez alguns dos ataques mais virulentos ao STF e parte de seus ministros, notadamente Alexandre de Morais, a quem chamou de “canalha” e disse que iria desobedecer.
A Lusitana rodou, Bolsonaro baixou o tom por meio de um mediador político – o ex-presidente Michel Temer –, e, um ano depois, o 7 de Setembro que se avizinha virou uma incógnita. Não se sabe ainda se o presidente repetirá as ameaças de 2021 ou manterá algum diálogo civilizadamente institucional. O que se sabe é que a celebração dos 200 anos da Independência não deverá passar para a história por conta de sua opulência e/ou planejamento.
A principal atração do evento, afora os veículos esfumaçados da frota militar brasileira, deverá ser o coração de dom Pedro I (dom Pedro IV para os portugueses), mantido em formol numa igreja do Porto. O órgão do libertador chegou ao Brasil nesta segunda (22) e recebeu homenagens dignas de um chefe de Estado: além da escolta de dois caças da FAB ao avião comercial que o trouxe, dois ministros recepcionaram o coração na Base Aérea de Brasília.
Bolsonaro fez forfait, mas Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Marcelo Queiroga (Saúde) fizeram as vezes do chefe. Queiroga não dispensou a mão no (próprio) coração na hora do hino.