Mesmo com o avanço nas discussões sobre a presença feminina em cargos de liderança, a equidade de gênero no mercado de trabalho ainda precisa avançar. Caminhos para promover a diversidade de gênero foi o tema do talk “Liderança Feminina: conquistas e desafios”, realizado pela PODER na última semana, no Teatro Unimed, em São Paulo.
Mediado pela diretora-geral do Glamurama, Joyce Pascowitch, o evento contou com a participação de Ana Eliza Angelieri, diretora de novos negócios da ONG Orientavida, e Susana Carvalho, diretora-executiva na JBS Novos Negócios. Na plateia, executivas e lideranças de vários setores contribuíram para a discussão sobre como as organizações podem promover a igualdade de gênero em níveis superiores, quais as características que tornam a liderança feminina fundamental para o desenvolvimento social e econômico das empresas, entre outros temas relacionados.
Para Susana Carvalho, o debate acerca da importância da diversidade está em alta: “Nós, em cargos de liderança, temos que conscientizar todas as camadas superiores, porque as mulheres têm muito poder para promover mudanças”, diz, ressaltando ações de impacto social da JBS como o Grupo Afinidade Mulheres, formado por colaboradoras que pertencem às marcas da companhia – líder global em produção de alimentos à base de proteína –, que tem o objetivo de aumentar iniciativas de equidade de gênero como parte do desenvolvimento.
Ainda que evidências mostrem que organizações que incorporam a diversidade de gênero possuem melhor desempenho do que organizações menos diversas, as mulheres do Brasil – e no mundo – ainda estão sub-representadas na alta gerência. Segundo um estudo realizado pela Grant Thornton, mulheres ocupam cerca de 38% dos cargos de liderança no país. Na comparação com outras nações, o Brasil está atrás de África do Sul (42%), Turquia e Malásia (40%) e Filipinas (39%), mas tem um resultado melhor do que a média da América Latina (35%), por exemplo.
Mas, na prática, quais as vantagens de se ter lideranças femininas? Para a executiva da JBS, elas trazem mais criatividade, inovação e multidisciplinaridade. “Conseguimos tocar várias tarefas ao mesmo tempo, o que agrega muito valor no mundo corporativo”, pontua. Ana Eliza, da ONG Orientavida, acrescenta: “Temos um olhar muito generoso para todas as nossas ações. Olhamos de forma generosa para uma situação e, no mundo atual, generosidade é um adjetivo que tem que ser cada vez mais lembrado. Somos cobradas em várias frentes, seja na vida pessoal, corporativa, ou em todos os universos por onde transitamos”.
A afirmação da diretora da ONG que desde 1999 capacita mulheres que viviam em situações de vulnerabilidade, se reflete também em números: um estudo do Linkedin mostrou que mulheres se candidatam a 20% menos vagas do que os homens porque elas sentem que precisam cumprir 100% dos requisitos solicitados pelos empregadores; a maior parte dos homens, contudo, arrisca com apenas 60%.
“Ainda há o estereótipo de que mulher deve cuidar da casa, que deve se dedicar a outros trabalhos que não o de líder. Por isso, ainda hoje é necessário falar sobre o assunto. Nós mulheres ficamos caladas por muito tempo, sem expor nosso ponto de vista. Mas as coisas estão mudando. Na JBS, por exemplo, uma movimentação muito interessante está acontecendo nos últimos anos de aprendizado sobre diversidade”, ressalta Susana.
Para que haja uma evolução significativa sobre a importância de uma sociedade mais igualitária, transpondo a teoria e passando à prática, as executivas avaliam ser fundamental a combinação de ações do poder público e da iniciativa privada em prol da equidade. Isso porque, apesar de representarem 43,8% dos trabalhadores no Brasil e ocuparem menos de 38% dos cargos de gerência, quando se trata dos comitês executivos das grandes empresas esse número cai para 10%. Além disso, mulheres ainda recebem o equivalente a 76% do salário dos homens. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).