Não se pode dizer que o criminalista Kakay tenha passado alguns anos pregando sozinho no deserto, mas ele foi uma das vozes mais contundentes a mostrar os excessos cometidos pela Lava Jato e seus próceres, principalmente pelo o ex-juiz, ex-ministro de Bolsonaro e ex-consultor a soldo de empresas que ele mesmo julgou Sergio Moro.
No livro que compila diversos artigos dele publicados nestes últimos anos e que sai agora pela Geração Editorial, o tema é dominante – assim como a necessidade imperiosa de ver restituído o Brasil, às vezes por meio mesmo de seus símbolos, como as cores, das mãos dos “fascistas”.
Muito além do Direito, que Kakay lança em seu restaurante Fuego, em Brasília, nesta quarta (1º), não é, de qualquer forma, apenas um compilado do que ele já publicou anteriormente em jornais e sites. Há o prefácio do sociólogo e poeta português Boaventura Souza Santos, o posfácio do deputado federal Marcelo Freixo e as, digamos, intervenções verbais de políticos como FHC, José Sarney, José Dirceu; de juristas como José Carlos Dias e Nelson Jobim; e a do cineasta Neville D’Almeida, “entradas” que dão aos capítulos uma espécie de música incidental.
Não ficam de fora as poesias que o criminalista cultiva e recita. Admirador de Fernando Pessoa, ele disse a PODER Online que vem se encantando com a obra poética do amigo Boaventura Souza Santos, responsável pelo prefácio do livro.
Embora o cenário político venha se decantando para 2022, com a entrada de Sergio Moro na corrida presidencial, Kakay preferiu não abordar essa “queda de máscara”, como disse. Ele lembrou a PODER Online, que, em 2018, quando o então ex-juiz aceitava o convite para integrar o governo Bolsonaro, deu entrevista ao UOL indicando a falta de competência jurídica e fraqueza intelectual do paranaense – e que, por isso, recebeu telefonemas de três ministros do STF preocupados com possíveis represálias.
Kakay acha que agora é o momento de reforçar a narrativa – real – de que Moro & Turminha de Curitiba “corromperam o sistema de Justiça” com a Lava Jato. “Bom de marketing”, o agora presidenciável deve voltar a acolher, crê Kakay, apoio de parte considerável da mídia brasileira.