Visionária em seus trabalhos, Eileen Gray foi uma das primeiras mulheres a ser reconhecida internacionalmente na área do design, campo predominantemente masculino na virada do século 19 para o 20. Ela nasceu em 1878, na Irlanda, filha do pintor James Maclaren Smith, de quem herdou o espírito aventureiro, e de Lady Gray, que ajudou a cultivar na filha a paixão pelo design. Aos 23 anos, Eileen se matriculou na Slade School of Fine Art de Londres e, paralelamente, aprendeu a arte do laqueamento, técnica oriental que adorava e que viria a se tornar decisiva em seus trabalhos futuros. Terminados os cursos, mudou-se para Paris, onde, em 1910, começou a desenhar telas e biombos decorativos que ficaram famosos e a levaram, em 1913, a expor no prestigiado Salon des Artistes Décorateurs, evento realizado anualmente na capital francesa.
Eileen ganhou fama quando Suzanne Talbot, designer e proprietária de uma butique de chapéus, lhe encomendou um projeto de decoração para seu apartamento. Extremamente criativa, Eileen começou a estudar arquitetura e transformou-se em companheira e sócia do arquiteto romeno, que também vivia em Paris, Jean Badovici. Apesar de seu legado arquitetônico não ser extenso, é muito emblemático um projeto residencial, o E-1027, inspirado nos ensinamentos do arquiteto suíço Le Corbusier, grande amigo de Badovici e admirador de Eileen. Localizada na Côte d’Azur francesa, a casa passou a ser o refúgio do casal Eileen-Badovici. Mesmo pequena, era extremamente funcional, como convinha a uma casa modernista, e seu mobiliário, inteiramente integrado à arquitetura, remetia ao espírito forma-função da Bauhaus. Eileen Gray foi uma artista singular. Seus trabalhos nunca foram produzidos em larga escala. Suas peças, de formas limpas e básicas, mas ao mesmo tempo imponentes, eram únicas e exclusivas. Com uma alma vanguardista para sua época, a arquiteta, designer de interiores e de móveis, morreu em 1976, aos 98 anos, permanecendo uma forte referência até hoje. (por Ana Elisa Meyer)