A mágica se fez. Depois de impedir a circulação de uma carta de tom bastante acaciano, carta idealizada por elas mesmas para pedir uma certa concertação pela harmonia entre os Poderes, as federações das indústrias brasileiras conseguiram parir verdadeiro milagre: uma dessas instituições, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), saiu na frente e emitiu uma nota própria para criticar o STF.
Como se sabe, a carta original, encabeçada pela Fiesp e seu decano presidente Paulo Skaf – em seu canto do cisne à frente da instituição –, que seria também subscrita pela Febraban, a Federação Brasileira de Bancos, foi arquivada até pelo menos a próxima semana.
Skaf teria sido demovido, conforme noticiou o jornal O Estado de S.Paulo, por Arthur Lira, presidente da Câmara e operador de um botão amarelo já mais para a cor-de-ferrugem, a segurar a divulgação do documento para depois da mise-en-scène que Bolsonaro pretende comandar com o “povo” no próximo feriado de 7 de setembro.
A carta da Fiemg é um primor de endosso às teses do Executivo, atentando para o que chamam de “cerceamento à liberdade de expressão” em algumas decisões do STF que afrontariam inclusive a “Constituição Federal”.
“Nas últimas semanas, assistimos a uma sequência de posicionamentos do Poder Judiciário, que acabam por tangenciar, de forma perigosa, o cerceamento à liberdade de expressão no país. Falamos de investigações e da possibilidade de desmonetização de sites e portais de notícias que estão sendo acusados em inquéritos contra as fake news”.
Os sites mencionados não são empresas de comunicação que fazem jornalismo profissional, ouvem os dois lados envolvidos nos fatos narrados e checam regularmente as fontes noticiosas. Tratam-se, pelo contrário, de porta-vozes supostamente independentes que endossam as teses bolsonaristas.