O Distrito Federal lidera o aumento da pobreza no Brasil entre 2019 e 2021, segundo a Fundação Getulio Vargas, número que contrasta com o título de cidade com melhor qualidade de vida do país, dado que foi estabelecido por estudos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Um exemplo deste contraste é o Setor de Embaixadas, braço da Asa Sul, que tinha tudo para ser a parte mais afluente de Brasília. Desenvolvido por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, como de resto todo o Plano Piloto, tem mansões de muros altos e segurança reforçada e – tal como o Morumbi, em São Paulo, ou a Gávea, no Rio –, incorporou, muito guardadas as proporções, sua própria Paraisópolis, sua própria Rocinha.
Em frente à embaixada dos Estados Unidos um acampamento de moradores em situação de rua instalou-se há cerca de um ano. Nos arredores da embaixada italiana, o mesmo ocorre desde antes da pandemia. Eventualmente, servidores oferecem água e comida aos moradores, que trabalham nos estacionamentos ao redor da vizinhança vigiando os carros.
A pandemia da Covid-19 é apontada como a maior causa do empobrecimento da população brasileira nesse período. O estudo registrou aumento de 7,9 pontos percentuais da pobreza no DF, que passou de 12,9% para 20,8% da população. Já a extrema pobreza cresceu 4,1 pontos, subindo de 3,2% para 7,3% dos habitantes. O Banco Mundial considera que alguém está em situação de pobreza quando tem uma renda de US$ 5,50 por dia; na extrema pobreza, a renda é de US$ 1,90 por dia.
O índice de crescimento da pobreza no Distrito Federal foi bem superior ao de outras unidades da Federação, embora em muitas regiões a proporção de pobres na população local seja maior do que na capital do país. Em todo o Brasil, a fatia de população pobre passou de 25,2% para 29,5%.
Brasília hoje, mais do que nunca, lembra a Belíndia, a Bélgica ilhada por uma enorme Índia, a metáfora do Brasil na expressão do economista Edmar Bacha.