Revista Poder

“Vejo um presidente que se esforça para mudar práticas do passado”, diz Vitor Hugo

Vitor Hugo || Crédito: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Líder do PSL na Câmara dos Deputados, Major Vitor Hugo (GO) tem duas características marcantes: é um excelente aliado e não tem medo de recomeçar. Tratado com desdém pela base bolsonarista quando líder do governo na Casa, em 2019 – cargo que teve de deixar para Ricardo Barros (PP-PR), quando o Centrão entrou com os quatro pés no governo – chegou a ser responsabilizado pela risível articulação do Planalto no parlamento em 2019.

Vitor Hugo, contudo, jamais abandonou o presidente.Tendo perdido o cargo, a graça, e a moral que tinha, foi ainda engolido pela então líder de Bolsonaro no Congresso, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), hoje inimiga desde criancinha do PR. Joice fez de tudo para cevar a imagem de incompetente do colega. Analisando em retrospectiva, inexperiência talvez seja um atributo mais justo para definir a atuação do deputado.

Antes de virar parlamentar, Vitor Hugo passou no disputado concurso de consultor legislativo da Câmara, em 2015, época em que conheceu Jair Bolsonaro, iniciando a amizade que selaria seu futuro.

Um tanto chucro na época, sem saber direito como demonstrar seus ativos, equivocava-se em protocolos, como dizer ser casado com uma juíza de direito ao iniciar uma conversa.

Em um novo recomeço, Vitor Hugo assumiu a liderança do PSL com a posse da Mesa Diretora em 2021. Deve ser o próximo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em 2022, quando também vai enfrentar as urnas, sem ainda saber para o quê. “Estou à disposição”, disse a PODER Online, fazendo a defesa  do presidente que o ajudou a se eleger.

Vitor Hugo falou com exclusividade a PODER Online.
 

PODER Online – O senhor é, sem dúvida, um dos aliados mais próximos do presidente Jair Bolsonaro. Tem alguma ressalva sobre a atuação no governo?

Major Vitor Hugo – Eu vejo um presidente patriota, honesto, cristão, que se esforça para mudar práticas do passado do país, para combater a corrupção. Isso começou quando ele escalou um ministério técnico e deu liberdade para que os ministros escalassem suas equipes; quando preservou estatais brasileiras e colocou técnicos na gestão. E, depois, quando teve coragem de enviar ao Congresso projetos estruturantes para o país, como as reformas da Previdência, a Tributária, e a Administrativa. Vejo o presidente lutando para fazer o país avançar. Nesse sentido, apoio sim o presidente. Acho que está fazendo um excelente governo e, se Deus permitir, queremos Bolsonaro por mais quatro anos.

PODER Online – As pesquisas de opinião mostram uma crescente perda de apoio para Bolsonaro. Como vê isso?
VH – Tenho grande dúvidas em relação às pesquisas porque vejo o presidente sempre muito bem recebido pela população em aeroportos e nas vias pelas quais trafega. Então, acho que há uma disparidade entre o resultado das pesquisas e o que vejo no dia a dia. É lógico que todos os governantes enfrentam dificuldades por causa da pandemia. A pandemia é um grande desafio para todos nós, principalmente para quem está no Executivo.

PODER Online – Como o senhor responde críticas ao PL 1595/19, mais conhecido como o Projeto Antiterrorista, de sua autoria? Quem não concorda diz que o texto pode criminalizar projetos sociais, criar um sistema paralelo de vigilância e isentar agentes públicos que cometem crimes.

VH – As pessoas precisam ler o projeto de forma efetiva. Tenho visto críticas de deputados e movimentos da esquerda que não se aprofundaram no texto. Não há nenhuma intenção em reprimir manifestações a favor ou contra qualquer pauta. Nossa preocupação é salvar vidas. Se alguém se manifestar colocando em risco vidas humanas, isso deixa de ser uma manifestação para virar um atentado. Manifestações pacíficas sobre qualquer tema fazem parte da democracia. O projeto de lei não se volta contra essa possibilidade. Estou aberto a conversas, desde que não sejam críticas vazias.

Esse é um dos projetos mais emblemáticos para mim. Dediquei quase seis meses a ele quando era consultor legislativo da Câmara e o apresentei ao então deputado federal Jair Bolsonaro. Foi todo escrito com base em minhas experiências no Exército. Quando me tornei deputado, pedi o texto, fiz uma nova rodada de conversas com as Forças Armadas, com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), com as polícias e apresentei um texto aperfeiçoado.
É um projeto de lei que tem três objetivos principais: preservar vidas humanas; preservar a capacidade do Estado de tomar decisões; preservar os patrimônios público e privado. São ações contra terroristas tanto na fase preventiva, quanto na fase repressiva e também no controle de danos. Consegui que fosse criada uma comissão especial para a tramitação do projeto. Foram realizadas três audiências públicas até agora. Já há um cronograma até a votação. Queremos aperfeiçoar o texto, ouvir todas as instituições, inclusive contrárias.

PODER Online – O senhor tem acompanhado a CPI da Covid do Senado?
VH – Tenho acompanhado a CPI circense. A começar pelo presidente [Omar Aziz], que tem irmãos e ex-esposa presos por desvios na saúde [a ex-primeira dama do Amazonas Nejmi Aziz e três irmãos do senador Omar Aziz foram presos em 2019 pela operação Vertex. Aziz, que e ex-governador do estado, nega as acusações de corrupção passiva e outras]. Um relator [Renan Calheiros] com uma série de inquéritos no STF. Uma narrativa que tenta ser construída em cima da atuação do governo, mas que até agora não provou nada. Tentam provar uma suposta corrupção, em que não houve a compra de nenhuma vacina. Acompanho  com uma certa preocupação em relação aos gastos públicos investidos, a perda de tempo de vários senadores em torno de um tema que não deveria ser foco. Deveriam estar preocupados com mais vacinas, com projetos estruturantes para o país. A CPI não se volta para os governadores. Há atuação da Polícia Federal nos estados e a CPI não se volta para esses gestores.

PODER Online – E como anda a coisa internamente? Alguns membros do Movimento Brasil Livre (MBL), como Mamãe Falei e Kim Kataguiri estão conversando com o PSL para possível filiação ao partido. É jogo?
VH – O PSL é um partido que tem alas diferentes. Tem uma bem identificada com o presidente Bolsonaro, que o apoia de forma efetiva – faço parte dessa ala. E tem uma outra que é crítica ao presidente, cada vez mais afastada. Eu vejo uma possível entrada desses atores como uma iniciativa da ala refratária ao governo. O presidente vai definir para qual partido irá em breve. É provável que os deputados mais próximos a ele o sigam. Aí, a gente vai ter a clara definição de quem está com o presidente e quem não está.

PODER Online – Jair Bolsonaro será reeleito facilmente no próximo ano?

VH – Não existe eleição fácil. Toda eleição é um caminho, uma construção. Mas tenho fé de que a maior parte do país não quer voltar a realidade que vivíamos quando o PT estava no poder. Bilhões de reais eram direcionados a ditaduras comunistas no exterior em detrimento de investimentos em nossa infraestrutura. Havia esquemas bilionários de propinas montados com guarida e coordenação do palácio do Planalto. Incentivo, fomento, empréstimos de bancos eram feitos somente a amigos do rei. Havia o retro-alimento de projetos de poder partidários em detrimento do país e da defesa de pautas como ideologia de gênero, descriminalização das drogas, do aborto. Essas não são pautas que a maioria da população apoia.

PODER Online – E o senhor? Está com a vaga garantida?

VH – Eu vou ser candidato. Estarei à disposição, mas ainda não sei para qual cargo. Vou aguardar o presidente Bolsonaro definir para qual partido vai para que eu possa fazer minha decisão.

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