Revista Poder

AliExpress “põe fogo” na concorrência ao abrir marketplace para brasileiros e jogar margem no chão

Gigante chinesa do e-commerce faz do Brasil primeiro país das Américas a ter marketplace próprio; cobrança de comissão baixa dos sellers deve agitar mercado, segundo consultor Renato Mendes

Crédito: Marco Verch/Flickr

O gigante mundial do comércio Alibaba, a varejista chinesa fundada por Jack Ma, pode estar enfrentando problemas internos por conta do controle estrito do governo chinês, que vem dificultando de modo geral a vida dos novos milionários de seu país, mas isso não a impediu de chegar oficialmente ao Brasil por meio de sua plataforma AliExpress.

A Alibaba escolheu o Brasil para ser o primeiro país das Américas e o sexto do mundo a permitir cadastramento de vendedores locais – os “sellers” – em seu marketplace. Antes disso, só Rússia, Turquia, França, Espanha e Itália entraram no sistema.

A chegada da AliExpress já causa movimentações na concorrência nacional, já que a comissão cobrada pela plataforma aos sellers – os vendedores brasileiros dentro do marketplace – será menor, em alguns casos muito menor, do que a cobrada por outras plataformas como a do Magazine Luiza e a do Mercado Livre.

Para o especialista Renato Mendes, da consultoria digital F5, a AliExpress vai colocar “fogo” no mercado, não apenas por tirar menos dinheiro dos sellers – o que vai “pressionar a margem de todo mundo para baixo” –, mas por poder contar com “funding” (dinheiro para investimento) e portfólio, na medida que à oferta de produtos vendidos pelos brasileiros se somará o aluvião de mercadorias que já vem da China.

Mendes lembra que a AliExpress já é há tempos um player relevante no Brasil, e agora, com sua chegada “institucional”, deverá conseguir “mitigar duas de suas dores”, que são o pós-venda e o tempo de entrega. “Eles sempre foram muito pautados pelo preço, e agora poderão entrar de verdade no jogo, mitigando as dores da logística e do pós-venda e ainda mantendo preço e trazendo um portfólio muito variado de produtos”.

A AliExpress chega ao Brasil num momento em que o comércio eletrônico ganhou envergadura por conta da pandemia, o que poderia indicar um erro de timing. Não é o exatamente o caso, diz o consultor. “Eles chegam tarde sim, mas, de novo, eles têm dinheiro, têm funding para competir. E esse é um terreno em expansão, não é um jogo de rouba-monte, vai ter mais espaço para a digitalização.”

Mendes diz que os concorrentes brasileiros “estão observando o movimento” e podem verificar o fluxo de vendas dos sellers que mantêm em seus marketplaces em tempo real. Na dinâmica desse negócio, não há exclusividade, e os vendedores entram em vários marketplaces diferentes ao mesmo tempo. Deve acontecer, segundo o consultor, um ajuste em certos setores. “Se virem que moda está performando na AliExpress, os concorrentes podem diminuir a comissão desse setor”, exemplifica.

No quadro abaixo, a participação de mercado do Brasil em 2020 (principais players).

 

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