A casa como uma galeria de arte. Nos móveis de Jean Gillon (1919-2007) estão referências ao cânone do design e a traços singulares da paisagem brasileira. O Museu da Casa Brasileira (MCB) exibe, até o dia 12 de dezembro, a mostra Jean Gillon: Artista-Designer, uma parceria com a galeria Passado Composto Século XX, que guarda a maior parte do acervo do artista.
Nascido na Romênia em 1919, Gillon mudou-se para o Brasil em 1956 e já com um portfólio robusto passou a criar mobílias baseadas, principalmente, no jacarandá, além de tapeçarias e esculturas. Como arquiteto, trabalhou sobretudo com o setor hoteleiro de luxo, além de projetar lojas e residências.
Diretor-técnico do MCB, Giancarlo Latorraca explica que a parceria com a galeria começou em 2016, quando houve a doação de uma poltrona Jangada, a mais icônica das peças do designer. “A oportunidade de apresentar a obra do artista-designer Jean Gillon cumpre com a missão de compor o múltiplo mosaico do design brasileiro, para além dos ícones mais consagrados pela historiografia do design”, afirma Latorraca.
A mostra apresenta 27 peças de mobiliário entre poltronas, banquetas, cadeiras, uma mesa de jantar e um bufete. Os visitantes encontram ainda uma vitrine com dezenas de documentos de época originais, como fotografias e catálogos de produtos da sua fábrica de móveis, a WoodArt. Há também esculturas, peças de tapeçaria e cerâmica, projetos de
cenografia, pranchas de desenhos técnicos e perspectivas com detalhes das poltronas Jangada e Saci e dos móveis da linha Módulo.
Entre as peças, algumas tornaram-se ícones. A mais famosa delas é, sem dúvida, a Jangada, com redes artesanais sustentando o almofadão de couro, uma referência à jangada de tábua típica do litoral norte e nordeste brasileiro. A
poltrona de jacarandá foi desenhada em 1968, após diversas viagens do arquiteto à costa da Bahia em meio às embarcações pesqueiras. Em leilões, uma poltrona original pode chegar a R$ 30 mil.
Para Latorraca, no design brasileiro, os elementos locais e do estrangeiro se conjugam para formar uma perspectiva singular. “Há, no caso de Gillon, além das raízes originárias de sua formação europeia, a introdução de elementos construtivos, técnicos e formais associados ao contexto brasileiro”, conta. “A apresentação da sua obra registra o legado do design de uma época, marcada pelo sucesso das exportações do móvel brasileiro, caracterizado pelo uso do couro e de madeiras nobres como o jacarandá”, diz Latorraca. A exposição fica aberta de terça a domingo, das 10h às 18h.