Enfrentar a obra de Wittgenstein não é para qualquer um, e cotejá-la, ou melhor, confrontá-la com a de Martin Heidegger, eis aí algo que pouquíssimas pessoas no mundo tentariam fazer.
O filósofo brasileiro José Arthur Gianotti, que morreu nesta terça (27), aos 91 anos, foi uma dessas pessoas. Detalhe: embrenhou-se na obra desses dois filósofos nos estertores de sua vida, lançando o livro Heidegger/Wittgenstein: confrontos em 2020, aos 90 anos.
Professor emérito da USP, era muito próximo de Fernando Henrique Cardoso. Ambos participaram, no fim dos anos 1950, na USP, do célebre grupo de estudos da obra O Capital, de Karl Marx, que teve ainda como orientador o filósofo Paul Singer. No regime militar, com a decretação do AI-5, em dezembro de 1968, ele e diversos outros colegas foram aposentados compulsoriamente.
Em 2017, em entrevista à Folha de S.Paulo, chegou a dizer que o PSDB, partido que apoiou por muitos anos, ainda que tacitamente, “morreu”.
“O PSDB não é mais um partido. Funcionava como um partido quando as decisões eram tomadas em bons restaurantes e todos estavam de acordo. Agora isso não há mais. E não existe alguém como Lula para aglutinar todos.”
A morte foi confirmada pelo Cebrap, centro de estudos de ciências humanas de que Giannotti foi um dos fundadores, em 1969, já no, digamos, degredo. O filósofo deixa um único filho, Marco Giannotti, artista plástico.
O Cebrap publicou a seguinte nota, no Twitter:
“É com imensa tristeza que o Cebrap recebe a notícia do falecimento de um de seus fundadores, o prof. José Arthur Giannotti. Aos familiares e amigos que tiveram o privilégio de conviver com Giannotti, um dos maiores intelectuais brasileiros, nossas sinceras condolências.”