Depois que a jornalista Eliane Catanhêde, de O Estado de S.Paulo, sugeriu recentemente que o ex-presidente Lula deveria fazer um gesto de “grandeza” e transferir sua popularidade para outro cabeça de chapa nas eleições de 2022, o pessoal ficou soltinho.
Ainda que a capacidade de influenciar a opinião pública do bravo matutino paulista tenha acabado em algum momento da década de 1950, vez por ou outra, por caminhos tortos, contudo, a publicação consegue pautar o debate.
Aconteceu nesta segunda (19), com o editorial “Semipresidencialismo, uma mudança possível”. Citando a defesa do modelo feita no próprio Estadão por Michel Temer, o artigo diz que a “mudança para o sistema semipresidencialista não é uma ideia utópica (…) é a continuidade de melhorias que já vêm sendo feitas nos últimos anos, como o fim das doações empresariais, a cláusula de barreira e a proibição das coligações em eleições proporcionais.”
Assim como Tasso Jereissati, que acordou nesta segunda (19) acreditando na harmonia interna do PSDB, ou, melhor dizendo, no Coelhinho da Páscoa, os editorialistas do Estadão também parecem estar a ver a arca cheia de moedas de ouro no fim do arco-íris.
“Pode ser o caminho viável para fortalecer a governabilidade e aumentar a responsabilidade política.”
A reação não demorou. No Twitter, atores políticos repercutiram a “peça”. “O impeachment sem crime, a fraude eleitoral de 2018 e o semipresidencialismo são três atos da mesma peça de teatro. A vítima é a mesma: a soberania popular. Imagine o Congresso escolher o chefe de governo”, escreveu o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad.
Arthur Lira, principal beneficiário da ideia – nem tanto por angariar mais poder, mas por conseguir desviar a atenção dos mais de 130 pedidos de impeachment de Bolsonaro que esperam sua apreciação ,– encheu-se de ares de gravidade e, qual um Catulo, pontificou:
“Podemos, sim, discutir o semipresidencialismo, que só valeria para as eleições de 2026, como qualquer outro projeto ou ideia que diminua a instabilidade crônica que o Brasil vive há muito tempo.”
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco não é visto no Twitter desde o último dia 14.