Com uma Procuradoria-Geral dócil com a presidência da República, a notícia de que a instituição abriu procedimento de investigação contra Jair Bolsonaro, o fato político desta sexta (2), é, não há dúvida, uma notícia.
Até porque não há sessão da CPI para dominar os noticiários.
Ou não é exatamente uma notícia. Há controvérsias. Os indícios de que o Procurador Geral, Auguso Aras, e seus meninos fizeram esse gesto a contragosto são inúmeros. O mais evidente é a recusa em abrir a investigação no começo da semana, quando a notícia-crime chegou ao STF.
Como se sabe, a solicitação partiu dos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO), que veem prevaricação do PR na negociação da vacina indiana Covaxin.
A primeira recusa da Procuradoria, contudo, foi barrada pela ministra do Supremo, Rosa Weber, que não viu pertinência no argumento do procurador Humberto de Medeiros, para quem a CPI da Covid já tratava “com excelência” do assunto e não haveria como a PGR fazer trabalho de maior qualidade.
Rosa foi lapidar na réplica. Disse que o órgão não pode assumir papel de “espectador” das ações dos Poderes da República.
O nome de Aras não foi citado em nenhum momento do imbróglio. Na quinta (1º), contudo, ele estava na sessão plenária do STF que homenageou o ministro Marco Aurélio Mello, que se retira do tribunal, por aposentadoria compulsória, no próximo dia 12.
Aras ouviu um elogio público de Mello, e só não ganhou a semana porque o Advogado Geral da União, André Mendonça, também foi enaltecido. Ambos disputam a indicação do PR para uma vaga na Corte — justamente a de Mello.