O jornal Financial Times está fazendo seus correspondentes no Brasil trabalharem duro. Nesta terça (11), publicou um especial sobre questões ambientais, com direito a um perfil do polêmico ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Abrindo a reportagem, há um panorama sobre o mercado ESG, citando os suspeitos usuais: Carlos Takahashi, que cuida dos negócios do fundo BlackRock no Brasil, e que revela que 30% dos investimentos no primeiro trimestre foram destinos a fundos ESG; Marta Pinheiro, executiva da XP, que fala do movimento da corretora rumo aos “bonds” social e ambientalmente corretos; e Sylvia Coutinho, da UBS Brasil, que afirma que 2020 foi um “ano de inflexão” para as empresas na direção do ESG.
Fabio Alperovitch, da corretora Fama e colaborador da PODER, mostra seu ceticismo em relação ao que chamou um dia de “tsunami” ESG – há mais de 20 anos militando na área, seu temor de “greenwashing” é no mínimo pertinente, já que muitas empresas se comprometem, por exemplo, a reduzir seu consumo de eletricidade em busca de um selo ESG, mas o impacto disso para a sociedade e para o planeta é pouquíssimo relevante.
Mas o melhor momento da reportagem é quando ela se dedica a comentar o “S”, o aspecto “social” da ESG, apresentando a enorme discrepância entre a população negra e parda do país, que perfaz 50% dos brasileiros, mas que ocupa, segundo a reportagem, 5% das posições executivas e 5% de assentos em board – e houve pouca evolução em dez anos.
Ricardo Salles apresenta ao FT o que chama de “paradoxo amazônico”, ao explicar que no lugar de maior biodiversidade mundial há pobreza por conta de baixa atividade econômica, e diz ser imperioso “mitigar e reduzir o risco das populações locais se envolverem com atividades ilegais em busca de alternativas de sobrevivência”.
Também ouvido pela reportagem, Thede Rüst, head de dívida de mercados emergentes do Nordea Asset Management, diz esperar que o Brasil emita um dia produtos financeiros de perfil de longo prazo, para assim “capturar mais do que um ciclo eleitoral”.
A Nordea parou de financiar produtos lastreados na dívida brasileira em 2019, no primeiro ano da gestão Bolsonaro, por conta do desmatamento e das queimadas na Amazônia.