Revista Poder

Narendra Modi

Primeiro-ministro da Índia vê seu país mergulhar numa segunda onda devastadora de Covid-19; falha no distanciamento social e lentidão na vacinação cobram fatura

Narendra Modi || Créditos: WikiCommons

A tempestade perfeita chegou à Índia. Segundo mais populoso país do mundo, com 1,38 bilhão de habitantes – e com taxa de natalidade 2.5 vezes maior do que a da China –, o país enfrenta uma segunda onda de Covid-19 devastadora.

O país já detém o recorde mundial de casos diários, batendo o pior momento dos Estados Unidos. Nesta segunda-feira (26), foram infectados 353 mil novos indianos, praticamente metade de todos os casos de Covid-19 no mundo em 24 horas.

Os números baixos da primeira onda, que foram considerados “miraculosos”, talvez fossem menos místicos e quem sabe mais fraudados – a subnotificação é séria no país.

Em Delhi, a capital, o caos funerário, que o cientista Miguel Nicolelis chegou a prever para o Brasil, só não se verifica porque os corpos são cremados às centenas – e o procedimento é quase espontâneo, feito nas ruas.

A Índia é o principal produtor de insumos de vacinas para a Covid-19, mas ainda apresenta números tímidos de imunização. Cerca de 9% da população do país recebeu a primeira dose do imunizante.

Narendra Modi, primeiro-ministro do país, em declaração à nação terça-feira (20), disse que o “país trava uma difícil batalha contra a Covid-19” e que a “situação tinha melhorado por um tempo, mas a segunda onda veio como uma tempestade”.

“A batalha é longa e dura, mas temos de enfrentá-la juntos, com dedicação e coragem.”

Curiosamente, o mesmo Modi se gabava de ter vencido esse guerra três meses antes. “Com soluções ‘made in India’, controlamos o alastramento do vírus e incrementamos nossa infraestrutura de saúde. Nossa pesquisa e produção de vacinas deram uma proteção não só para a Índia como para muitos países do mundo”, disse.

Em fevereiro, o partido de Modi, o BIP, aprovou uma resolução chamando-o de “visionário que derrotou a Covid-19”.

O caos de abril talvez seja reflexo dessa autoglorificação e também de um certo receio em adotar práticas de distanciamento social mais rígidas. Nas últimas semanas foram liberados eventos de massa como eleições em cinco estados, o popular Holi Festival e o Kumbh Mela, considerado o maior evento religioso do mundo, quando hinduístas mergulham no rio Ganges na altura da cidade de Haridwar.

Faltou também ponderar que ser o líder mundial na produção de insumos para vacinas não basta. É preciso usá-los.

 

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