Revista Poder

Renúncia dos chefes militares faz soar alerta de golpe, mas parlamento não vê riscos

Movimento inédito na redemocratização, saída dos comandantes das três forças, descontentes com troca na Defesa, não sinaliza, para legislativo, de autogolpe de Jair Bolsonaro

Edson Pujol, Ilques Barbosa e Antônio Carlos Bermudez || Crédito: Marcos Corrêa/PR

Um dia após a limpa monstro na Esplanada dos Ministérios, com a substituição de seis ministros, os três chefes das Forças Armadas brasileiras se demitiram, ao mesmo tempo, pela primeira vez na história, suscitando especulações sobre um golpe de Estado.

Nos corredores de Brasília, o enredo tem sido controlado pela narrativa de que a saída do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e dos chefes do Exército, Edson Pujol; da Marinha, Ilques barbosa; e da Aeronáutica, Antônio Carlos Bermudez, deve-se à possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro querer controlar as instituições.

Os cargos nas Forças Armadas foram colocados à disposição do novo ministro da Defesa, general Braga Netto, nesta terça-feira (30), no mesmo dia em que ele tomou posse.

A expectativa no Planalto seria dar vazão ao ímpeto do presidente Bolsonaro por meio da atuação de Braga Netto, que, embora enfrente resistências entre os militares, tem legitimidade para operacionalizar as Forças Armadas em nome do governo.

Interlocutores disseram a PODER Online que Bolsonaro quer um exército “para chamar de seu”, levantando a possibilidade de um golpe de Estado, tema que se fortalece com a celebração do Golpe de Estado de 1964, amanhã (31).

Para integrantes do Centrão, as mudanças são mais um sinal de fraqueza do que de conspiração. “O presidente sabe que se não der o que prometeu, vai perder a mobilidade no Congresso. E, neste momento, mais do que nunca, ele tem de estar alinhado com o Legislativo para cumprir sua agenda”, disse um parlamentar a PODER Online.

Para blindar o PR, o líder do PSL na Câmara, Major Vitor Hugo (GO), quer pautar um projeto que daria a Bolsonaro o poder de usar a Mobilização Nacional durante a pandemia. Ou seja, mobilizar os militares para ações determinadas pelo governo federal. Embora o dispositivo tenha sido criado para casos como guerra, poderá ser usado para “reter” produções privadas (de vacinas, inclusive) e controlar medidas (de lockdown, diga-se) no país.

Hoje, na Câmara Federal, Arthur Lira e os demais líderes acordaram aprovar diversas medidas ligadas à pandemia por voto de liderança. Isso atiçou diversos observadores, imaginando que a tal Lei de Mobilização Nacional estaria já em curso. Mas o que se acertou na Casa foi a aprovação de uma teia de projetos, como o que autoriza transporte de pacientes de Covid por ônibus escolares e o que propõe a prorrogação da entrega da declaração do imposto de renda.

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