Tirar João Doria da frente de um holofote é tarefa complexa, mas ele mesmo decidiu se deixar convencer pelo óbvio ululante: era preciso maneirar as aparições públicas.
Desde o começo da pandemia, em algum momento da Antiguidade, Doria dubla de mestre de cerimônias nas já famosas entrevistas coletivas do palácio dos Bandeirantes, sempre às 12h45. São três por semana, às segundas, quartas e sextas.
Dada à paternidade na introdução no Brasil da CoronaVac, a “vacina do Butantan”, fazia mesmo certo sentido essa, digamos, ubiquidade.
Neste março mudou. Doria passou a ficar só com o filé, geralmente a entrevista das quartas-feiras, abrindo espaço nos outros dias para um novo MC, o vice-governador Rodrigo Garcia.
Como pode ser visto nesta segunda (22), Garcia aprende rápido, e já distribui com facilidade as perguntas dos jornalistas para sua equipe, incumbindo quais secretários ficam com os comentários, quais chefes de comitê se entendem com as réplicas e quais assessores presentes matam no peito as tréplicas.
Essa socialização do microfone coincide com os resultados de pesquisas de simulação das eleições de 2022 que mantêm Doria sistematicamente abaixo dos 5% de intenção de voto; e, mais importante, coincide com a perda do protagonismo isolado do governador no PSDB pelo país.
A reaparição nacional do deputado mineiro Aécio Neves, com quem Doria antagoniza desde antes de 2018, a emergência do governador gaúcho, Eduardo Leite, que se colocou como outro possível presidenciável do partido, e a implosão de um acordo com o DEM quando o partido dirigido por ACM Neto abraçou calorosamente a candidatura Arthur Lira à presidência da Câmara, colocaram dúvidas sobre o clima “tudo dominado” que um dia embalou o sonho presidencial do governador.
Com isso, ficou na berlinda também Garcia, que herdaria a cabeça de chapa ao Bandeirantes em 2022 numa dobradinha com o PSDB caso Doria disputasse o Planalto.