Avessa às divergências das pessoas que deveria proteger, a ministra da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves, não esconde suas preferências pela tradicional família brasileira.
Aquela com marido, mulher, cunhado, filha, enfim, uma família digna das peças do Nelson Rodrigues.
Damares tem, sim, bandeiras para tentar minimizar as mazelas de mulheres agredidas pelo marido, de idosos em situação de vulnerabilidade e dos moradores de rua.
Mas falta à gestora de uma pasta especialmente delicada o fino trato que é necessário para atender demandas dessas pessoas com as quais ela não se identifica.
A ministra leva tão a sério seu posicionamento contrário a questões como identidade de gênero e o sexo entre menores de idade que brigou com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), instituição sob seu guarda-chuva, por recusar-se a cumprir uma solicitação deliberada pelo conselho.
Fez chegar ao palácio do Planalto que, no que diz respeito às relações íntimas entre jovens do mesmo sexo que cumprem pena em instituições socioeducativas, é terminantemente contra.
A ministra defendeu o posicionamento durante um almoço nesta semana, em Brasília. Disse que não pode (e não vai!) permitir a situação. Para ela, colocar dois adolescentes do mesmo sexo que se dizem apaixonados na mesma cela pode chegar ao ponto de um abuso sexual.
“E um dos dois ainda pode sair traumatizado, com medo de denunciar”, completou durante o evento.
A recomendação do Conanda, proferida em dezembro do ano passado, é uma sugestão — e não uma ordem. Quem dá as ordens, neste caso, é justamente a ministra. E ela pretende se fazer cumprir.