Revista Poder

Nos 63 anos de João Doria, 22 fatos sobre a vida e carreira do governador paulista

22 fatos sobre a vida e carreira do governador paulista, que faz aniversário hoje e deve ser o principal opositor de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022

João Doria || Crédito: Divulgação Governo de São Paulo

João Doria faz 63 anos nesta quarta (16) da maneira que certamente mais deseja: sendo um protagonista da vida pública brasileira. Relembre 22 coisas que marcaram a carreira do governador do Estado de São Paulo e virtual candidato à presidência do Brasil em 2022.

1. João Doria ainda não perdeu eleição. Sua estreia foi em 2016, como candidato à prefeito de São Paulo pelo PSDB, em que foi eleito já em primeiro turno, derrotando o incumbente, Fernando Haddad (PT).

2. Mesmo tendo prometido não se afastar do edifício Matarazzo, deixou a prefeitura em 2018, tendo cumprido pouco mais de um ano de mandato, para se candidatar a governador. Sua segunda vitória consecutiva, contra Marcio França (PSB), foi muito apertada, decidida por apenas 3 pontos percentuais – 740 mil votos. Na capital, numa demonstração de que os paulistanos se sentiram incomodados com a quebra de sua “promessa”, Doria teve bem menos votos do que França – a diferença em favor do oponente foi de 16 pontos percentuais.

3. Em sua vitória para prefeito, Doria surfou na onda antipolítica que varria o Brasil. Dilma tinha sido definitivamente afastada da presidência havia poucas semanas, e Doria se vendeu na campanha não exatamente como um candidato a prefeito, mas a “gestor”.

4. Preocupado em não chamar atenção para sua riqueza na campanha à prefeitura – sua casa em São Paulo fica em terreno de 7 mil metros quadrados no bairro mais caro da cidade –, Doria aceitou de bom grado a sugestão de seu marqueteiro, Lula Guimarães, de ser chamado como “João trabalhador”.

5. Em sua primeira ação como prefeito, vestiu-se de gari e posou para fotos simulando limpar os baixios da praça 14 Bis, na Bela Vista. Era o início do projeto que chamou de “Cidade Linda”, que emulava o “Belezura”, da ex-prefeita Marta Suplicy. Marta então preferiu a brocha: diferentemente de Doria e seu esfregão, ela posou para fotos pincelando paredes no lançamento do “Belezura”.

Crédito: Fabio Arantes/ Secom

6. Fundamental na vitória em segundo turno contra França foi ter criado o “BolsoDoria”, quando Doria surfou na popularidade de Jair Bolsonaro, que também disputava o segundo turno contra Fernando Haddad. Mesmo sem gestos explícitos de apoio do candidato presidencial, o futuro governador se mostrou alinhadíssimo às agendas conservadoras e anti-corrupção envergadas por Bolsonaro.

7. A ruptura com o presidente, sedimentada em 2020 no começo da crise da Covid-19, começou em 2019. Doria passou a criticar as declarações esdrúxulas de Bolsonaro de julho de 2019, em especial a que atacava o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz. Logo o governador apadrinhou a entrada do deputado federal Alexandre Frota, outro devoto arrependido de Bolsonaro, no PSDB.

8. Mas desde lá Bolsonaro pode vir acumulando material  para ser usado numa provável disputa eleitoral em 2022. Além de todo o bastidor do BolsoDoria, há a demonstração de flexões abdominais de junho de 2019, quando o presidente veio ao Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro, na capital paulista. Mais esquisito que o movimento de elevação de ombros de Bolsonaro é a publicação, no Twitter de Doria, da cena toda. O governador escreveu: “Presidente mandou pagar 10, a gente paga neh?” E marcou @jairbolsonaro.

9. Doria perdeu capital político em seu estado em 2020, e a demonstração mais clara disso foi ter desaparecido da campanha à prefeito, em novembro, de Bruno Covas. Covas, que assumiu a prefeitura com a renúncia de Doria, foi insistentemente cobrado por seus adversários políticos sobre a ausência do governador.

10. No final de setembro, em pesquisa DataFolha, Doria bateu 39% de ruim/péssimo de popularidade entre os paulistanos, contra 21% de ótimo/bom.

11. A  pandemia trouxe protagonismo ao governador. Com aparições sistemáticas em entrevistas coletivas organizadas no horário do almoço no palácio dos Bandeirantes, ele fez questão de se dizer “aliado da ciência”, marcando claro contraponto ao negacionismo de Bolsonaro. Nas coletivas, ele dublava também como mestre de cerimônias, indicando a vez aos jornalistas e encaminhando suas perguntas a seus secretários.

12. O contraponto ao presidente se tornou briga aberta numa reunião virtual de governadores do Sudeste com Bolsonaro, em 25 de março. Doria cobrou que Bolsonaro deveria “dar exemplo” e não “dividir o país”. O presidente retrucou dizendo que Doria não tinha “altura para criticar o governo federal”. “Vossa excelência não é exemplo para ninguém”, disse.

13. O conflito tende a abrir 2021 ainda mais agudo, com o protagonismo adquirido pelo governador na chamada “guerra das vacinas”. Doria se antecipou ao imobilismo do ministério de Saúde e conseguiu trazer para o Instituto Butantan, em São Paulo, tecnologia da empresa chinesa Sinovac para produção da vacina CoronaVac, contra a Covid-19. A ação ganhou um desafeto figadal no palácio do Planalto, que passou a atacar a “vacina chinesa do Doria”.

14. Diante de mais solipsismo de Bolsonaro e de seu ministro da Saúde, Doria deu outro passo como líder nacional ao anunciar a campanha de vacinação no estado para 25 de janeiro (data do aniversário da cidade de São Paulo), mesmo sem ter submetido a “vacina chinesa” ao crivo da Anvisa, passo fundamental para obter autorização para numa campanha de imunização.

Crédito: Divulgação Governo de São Paulo

15. O governador é famoso pela objetividade de suas reuniões. Em entrevista a PODER, em abril de 2017, ainda como prefeito, definiu-se da seguinte maneira: “Sou um pouco impaciente. Como tenho o raciocínio muito rápido, tudo o que me atrasa me incomoda. Aí, preciso me policiar para não colocar o tom um pouquinho acima e machucar as pessoas.”

16. Nessa mesma entrevista, comparou sua liderança pública a de um CEO, “que precisa tomar decisões amparadas em sua própria condição e no diálogo que tem consigo mesmo”. “Ainda que você tenha um board, há decisões que é preciso ter coragem de tomar e de assumir integralmente. Isso se você for um líder.”

17. O governador não entrou na vida pública ao se eleger prefeito. Ele já havia sido secretário de Turismo de São Paulo, na prefeitura (biônica) de Mário Covas; também presidiu a Embratur, a autoridade federal de turismo, durante a presidência de José Sarney.

18. Embora os grandes fãs brasileiros de Donald Trump sejam Jair Bolsonaro e seus filhos parlamentares – Bolsonaro, aliás, foi o último presidente do G-20 a reconhecer a vitória de Joe Biden contra Trump –, Doria desempenhou o mesmo papel do presidente americano no reality show O Aprendiz, exibido aqui pela TV Record. O futuro governador em sua performance televisiva traduzia para o português o bordão “you are fired” (“Você está demitido”), de Trump.

19. Seu pai, também João Doria, foi jornalista, publicitário e deputado federal cassado pelo regime militar, já pelo Ato AI-1, em abril de 1964. Exilou-se em Paris, e voltou ao Brasil dez anos depois. O futuro governador de São Paulo voltou antes com a mãe, Maria Sylvia, em 1966. Maria Sylvia penhorou suas joias para montar uma fabriqueta de fraldas no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

20. O governador é casado com a artista plástica Bia Doria, que, ironicamente, lembra um pouco o presidente Bolsonaro em suas declarações de incorreção política contra minorias. Ela já falou que as pessoas em condição de rua “gostam de ficar na rua” e não querem a “responsabilidade” dos abrigos.

21. Doria roubou de Geraldo Alckmin seu protagonismo no PSDB paulista, mas, num prodígio ainda maior, foi capaz de quebrar a moderação, uma qualidade já legendária do ex-governador, quase no limite da apatia. Poucos dias após perder o primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, Alckmin chamou Doria de “temerista” e ainda disse para o interlocutor a frase “traidor eu não sou”. Em resposta, Doria disse “não guardar ressentimento”.

22. Embora tivesse se lançado a prefeito de São Paulo, e precisasse buscar o voto do eleitor das periferias, a impressão dos homens de marketing da campanha de Doria era que o candidato tinha pouquíssima familiaridade com a São Paulo além do quadrante Rebouças-Paulista-Faria Lima-Brigadeiro Luís Antônio. Havia a suspeita de que o “cliente” pudesse estranhar o pacato bairro de classe média alta Vila Ipojuca, na Zona Oeste, por exemplo, região do estúdio onde Doria gravou sua campanha televisiva.

Sair da versão mobile